terça-feira, 3 de março de 2009

Vida.

Após algumas semanas de acontecimentos marcantes, e de introspecções profundas, decidi (finalmente) expor o que vou pensando, dia após dia.

Existem vários tipos de pessoas, quer raças, culturas, religiões, cores, feitios, personalidades (etc). Mas foco especialmente as pessoas que não sabem o que é a vida, não sabem o que é viver. Foco as pessoas que por um problema na vida, acham que as suas vidas são merda, as mesmas pessoas que mais tarde ou mais cedo acabam por estupida e inconscientemente (algumas até conscientemente), pensar na morte, pensar em acabar com a dita "vida" que só traz desgostos e dissabores. Foco neste caso, a minha pessoa, que já por inúmeros motivos, e obviamente, estupida e inconscientemente, pensei na morte, pensei em por termo ao que de tão valioso tenho, em acabar com um sofrimento que teima em aparecer logo no momento em que quero ser mais feliz. Foco as minhas estupidas reacções e raciocinios; foco a minha falta de coragem para saltar a primeira fasquia mais alta que me aparece no caminho.

Tive, infelizmente, a "oportunidade" de provar o travo amargo da perda, de sentir a falta de alguém, de interiorizar que essa falta será eterna; que a voz, o toque, o perfume dessa pessoa serão apenas memórias; senti a verdadeira lágrima de tristeza, de solidão, de abandono, de "Adeus", lágrima(s) essa(s) que me vai/vão acompanhar em cada recordação, ao longo de todos os imensos anos que vou viver, e que ela já não.

Dói... Dói cá dentro, mas não demonstro, porque sou forte... E demonstrar, piora-me. Dói saber que a quem quer tanto viver, é retirada essa hipótese, e que quem tem um vasto caminho pela frente, abdica tantas vezes...
Dói pensar que poderia ter sido feita tanta coisa com quem já foi, e deveria ter ficado, e que tanta coisa foi (mal) feita com quem ficou...
Dói pensar que há ocasiões que me trazem tristeza, que há pessoas que me causam mau estar, quando eu deveria estar feliz por estar viva!
Dói, mais tarde olhar pra trás e ver que chorei por isto ou aquilo, por este/esta ou aquele/aquela, quando na verdade não passam de pedrinhas do asfalto em que todos, mais tarde ou mais cedo temos de tropeçar.
Dói saber que um dia vou ter consciencia do que é viver, do que é a vida; vou saber dar importância ao que realmente merece importancia, mas que até lá chegar já passei 20 anos de uma vida que já parece tão curta.
Dói saber que vou passando cada dia a viver ao máximo, a sorrir ao máximo, a conviver ao máximo, para um dia tudo acabar, e quem sabe, acabar sozinha.

Mas sobretudo, dói passar por tudo isto e algo mais, dói chorar e rir por tanto ou tão pouco, dói olhar para trás e ter boas recordações do passado tão vivido, e não a ver, apenas a sentir. A ela, e ás pessoas que vão vivendo do nosso lado, e acabarão por ir ter com ela.

«-Mas sabes? Dói muito, muito menos quando olho para o céu e penso, e sei que estás melhor, que me estás a controlar de lá de cima, com o teu dedinho apontado a dizer "Maaaaarta!" e que acabas por te rir com aquela tua gargalhada impossivel de imitar, e que sei que foste feliz á tua maneira, e que me deste e ajudaste tanto quanto pudeste.

Desculpa por não me ter despedido de ti, mas conheces-me, e sabes que aquele meu beijo pegajoso tipo ventosa nas tuas bochechas não podia ter sido dado em público.

Um dia, daqui a muitos, muitos, muitos anos, agente vê-se, tenho a certeza. »

Dói muito, muito menos saber que com ela, aprendi a dar valor á vida. E isso eu não tenho como lhe agradecer, nunca.

E por isso agora, vivo a vida! Temo a morte, mas agora respeito-a!

«-Adeus, "Angélica".»

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Coisas.

São quatro e meia da manhã. Estou debaixo dos meus lençóis (e dos meu cobertores e edredon). Dou trinta voltas para a direita, quarenta e uma para a esquerda, conto cinquenta e cinco ovelhas, o meu telémovel vibra duas vezes, e eu ainda não cheguei ao meu vigésimo-sexto sono (sequer ao primeiro).
Resolvo levantar-me da cama.
Sigo em direcção á porta do quarto; abro a porta lentamente, e entro para a outra divisão quase tão gelada como o monte de neve espalhado por estradas e casas lá fora. Pé ante pé, descalços no chão de madeira da sala, caminho para o puff preto perto do aquecedor, que ligo, e acendo um cigarro. Ligo a aparelhagem, bem baixo, com um cd de soul music lá dentro. Atiro-me para o puff, gelado também, que me dá um arrepio nas costas, nuas. Inclino a cabeça para trás, e deixo-me levar pela suavidade do soul. Começo a pensar «e se fosse eu a cantar isto?», «e se daqui a uns anos eu for uma cantora a sério, e deixar os bares de karaoke no passado?» e sorrio... É practicamente impossivel, mas desde criança que gosto de sonhar alto (e ás vezes, ainda ter o pouco que seja de esperança).
Levanto-me do puff e, calmamente, quase que deslizando ao som da música, aproximo-me do móvel para queimar um incenso. Escolho o Afrodisíaco, não por ser realmente afrodisíaco, mas por ter um aroma agradável, e que condiz com o ambiente que me rodeia.
Apago o cigarro e atiro-me novamente para o puff; volto a ter o arrepio pelas costas, mas desta vez prolonga-se pelas pernas. Ato o cabelo, e vou descaindo as minhas mãos pelo meu corpo: pescoço, ombros, peito, barriga... Outro arrepio percorre-me, desta vez, por completo. Esboço um sorriso matreiro, mordendo o lábio inferior, à medida que passo ambas as mãos pelas ancas.
Levanto a cabeça, olho para a porta do meu quarto; todos estes arrepios me remontam certa noite, nesse mesmo espaço. Relembram-me certas frases que foram ditas. Relembra-me um "adoro o teu corpo...".
Olho para mim mesma.
Estou apenas de lingerie, e por isso, solto outro sorriso matreiro. Outra memória apareceu... A memória de um olhar de desejo, de um olhar inquieto; a memória de um "adoro..." isto ou aquilo, a memória do meu tempo de "vingança". A memória até de umas quantas suplicas.
E nisto, continuo no meu puff, a ouvir a minha soul music, com um aroma perfumado do meu incenso Afrodisíaco, com lembranças de "outros" tempos, lembranças do passado (lembranças boas do passado), com recordações daquela pessoa que nos faz (ou fez) sentir que temos um milhão de personalidades, com saudades de um "tudo" que já aconteceu e que receamos não voltar, com a falta de ouvir qualquer coisa boa que seja, ou com a certeza que daquela boca não voltaremos a ouvir um "és perfeita...", "Desculpa-me...", "Amo-te!", ou um simples "adoro o teu corpo...".
Contento-me com o presente; também não posso fazer muito mais se não isso mesmo: seguir em frente com a vida, pois já de nada serve ficar parada ou querer apenas olhar para trás.
Pode ser que um dia me volte a dizer qualquer coisa... Quem sabe se um dia não me voltará a dizer tudo isto, se não voltarei a sentir tudo isto, se não terei saudades por as estar a matar? Quem sabe se um dia eu vou estar neste puff, mas não sozinha? Quem sabe se os arrepios não serão causados por outras mãos, por outros desejos, por outras razões? Ninguém sabe... Nem eu sei. Neme ele sabe. Resta-nos dar tempo ao próprio tempo.

Desligo a aparelhagem, o incenso já se apagou entretanto, e levanto-me do meu puff. Sigo pacificamente para "os meus aposentos", tendo ainda na memória tudo o que pensara até ao momento. Deito-me, aconchego-me e sorrio.
"É practicamente impossivel, mas desde criança que gosto de sonhar alto (e ás vezes, ainda ter o pouco que seja de esperança). ".




Dedicado especialmente a ele.